O BRAINSTORMING NÃO É EFICAZ
Empresas e escritórios usam diariamente a técnica de brainstorming em suas reuniões. Neste artigo, apresento algumas considerações sobre por que o brainstorming não é eficaz.
O que é e como surgiu o brainstorming
De acordo com o dicionário Miriam-Webster, brainstorm significa
a group problem solving technique that involves the spontaneous contribution of ideas from all members of the group.
Tradução livre: uma técnica em grupo de solução que envolve a contribuição espontânea de todos os membros do grupo.
O brainstorming é a técnica usada pela maioria das empresas, escritórios, escolas etc para chegar a um consenso ou solução. Esse método pode ser descrito como uma sendo uma reunião onde participam várias pessoas, com a finalidade de discutirem um tema específico e chegarem a um consenso.
Antes de mais nada, a técnica de brainstorming surgiu nos anos 1950, nos Estados Unidos, sendo apresentada por Alex F. Osborn, um publicitário de Nova Iorque. Osborn escreveu um livro intitulado “Applied Imagination: Principles and Procedures of Creative Thinking” (Tradução livre – “Imaginação aplicada: princípios e procedimentos do pensamento criativo”).
A Regent University, em artigo publicado em sua página oficial, apresenta uma crítica ao método atual de brainstorming:
In the broader culture, brainstorming basically has come to be synonymous with the creative idea generating process. While brainstorming became a tool for creative problem solving in this general way, it is very different from the fundamentals of the original description of the brainstorming process designed by Alex Osborn.
Tradução livre: Na cultura geral, o brainstorming basicamente virou sinônimo de um processo criativo de geração de ideias. Apesar do brainstorming ter virado uma ferramenta para resolver problemas de forma criativa, ela está bastante diferente dos elementos originais de descrição do processo de brainstorming, criados por Osborn.
A saber, originalmente, o branstorming foi concebido como uma técnica que deve obedecer a 4 regras básicas:
- Primeira, gerar o máximo possível de deias. O foco é na quantidade, não na qualidade
- Segunda, ninguém poderia criticar a ideia do outro. Ou seja, não deveria haver julgamentos
- Terceira, incentivar ideias malucas
- Quarta, os participantes podem combinar ou aprofundar as ideias uns dos outros
Acima de tudo, a condução desse procedimento deve ser com grupos de 5 a 12 pessoas, no máximo.
Seja como for, atualmente, você verá que existem inúmeros artigos sobre o tema. Surgiram, inclusive, teorias variadas para explicar o brainstorming, sendo a de Yale a mais famosa.
Por que o brainstorming não é eficaz
Para você ter uma ideia, só para ilustrar, a partir do ano de 1958, de cada 10 empresas norte-americanas, 8 usavam rotineiramente a técnica de brainstorming com seus funcionários. Essa tendência continua até hoje; com toda a certeza, o brainstorming vem sendo usado como a principal forma de trabalhar com equipes no meio profissional.
Você, provavelmente, já participou de alguma reunião de brainstorm. Antes de tudo, pare para refletir, como o processo ocorreu?
Vamos considerar que a reunião tenha sido feito com uma dezena de pessoas e que o seu chefe também participou – seja na reunião inteira, ou em parte dela apenas.
Tente se lembrar de alguma ocasião em que isso aconteceu.
Infelizmente, não são raras as vezes em que a técnica de brainstorming usada hoje em dia pelas empresas seja sinônimo de “tentar-descobrir-o-que-o-chefe-quer-ouvir”. Pergunto a você: seria o brainstorming eficaz?
Críticas à eficiência do brainstorming
Os críticos do método de brainstorming usam 3 argumentos para questionar a sua eficácia.
Vou apresentar esses argumentos e, depois, vou fazer um contra-ponto a cada um deles usando uma experiência feita com grupos de pessoas na Alemanha.
Então, vamos aos argumentos mais usados para afirmar que o brainstorming nao é eficaz.
1 – Evasão de pensamento (Free Riding)
Quando estamos em grupo, há sempre aqueles que se sentem protegidos pelos demais colegas.
Por isso, tendem a ficar calados, a deixar que os dominantes falem e coloquem os seus posicionamentos.
Além disso, a presença de um grupo pode fazer com que uma pessoa que tenha uma ideia possa pensar que a sua contribuição individual é dispensável, uma vez que os demais já falaram tanto sobre o tema.
2 – Receio de opinar (Evaluation Apprehension)
Grupo que realizam sessões de brainstorming são compostos por várias pessoas. Essas pessoas são diferentes, com capacidade intelectual distintas entre si.
Assim surge o temor da pessoa falar alguma coisa e ser tachada como inferior intelectualmente pelos demais. Ninguém quer parecer incompetente na frente dos colegas.
3 – Inibição de pensamento (Production blocking)
Em uma sessão de brainstorming, enquanto uma pessoa fala, as demais permanecem caladas, ouvindo.
A crítica feita é no sentido de que ideias podem ser perdidas pelo simples fato dos indivíduos não terem a oportunidade de se manifestar no momento em que a ideia apareceu.
Ou seja a conversa caminha para uma direção e essas ideias ficam em segundo plano ou se perdem no esquecimento.
Ao ser forçado a ouvir seu colega, você simplesmente esquece uma ideia que passou pela sua cabeça em um dado momento.
Distanciamento do método original – por isso o brainstorming não é eficaz?
Veja que os argumentos usados por aqueles que criticam o brainstorming demonstram que o brainstorming atual se distanciou do método antigo.
Nesse sentido, caberia fazer a seguinte pergunta: os 4 elementos estabelecidos por Osborn seriam realistas? Você, leitor, entende que é possível estabelecer uma sessão de debates, em grupo, sem que pessoas sejam julgadas?
Imagine uma reunião de brainstorm onde o seu(ua) chefe participe. Pode até ser que você consiga manter o seu posicionamento e consiga defender as suas ideias, mas será que todos os seus colegas teriam esse mesmo comportamento?
Mais abaixo, vamos responder à dúvida se o brainstorming não é eficaz por ter se distanciado de seu modelo original.
Levando em consideração as críticas feitas, um estudo feito na Alemanha procurou identificar o brainstorming e sua eficácia
Michael Diehl e Wolfgang Stroebe, da Universidade de Tübingen, resolveram reunir as principais críticas ao brainstorming e analisaram a sua veracidade.
Em síntese, eles fizeram estudos e realizaram experiências com pessoas colocadas em grupo para fazer sessões de brainstorming.
A ideia era descobrir se haveria perda de eficiência e de produtividade em grupos de brainstorming. Michael e Wolfgang, levaram em consideração os três argumentos, já comentados acima, usados para criticar o brainstorming.
Conclusões do estudo – o brainstorming não é eficaz?
Os resultados foram bastante interessantes.
Eles chegaram à conclusão que o Receio de opinar (Evaluation Apprehension) em frente aos demais colegas não seria, em si, um fator determinante para redução ou perda de produtividade.
Isso decorre das instruções recebidas antes da sessão, que são no sentido de dar total liberdade às pessoas apresentarem as suas ideias, sem que sejam criticadas. Em outras palavras, o fato do grupo receber instruções para respeitar todas as opiniões, realmente funciona.
Com relação à Evasão de pensamento (Free Riding), o estudo concluiu que a evasão de pensamento também não poderia ser considerada como a vilã da perda de produtividade nas sessões de brainstorming.
Mas, concluíram que um fator importante a ser levado em consideração é que o número de pessoas que não participa – ou que não se manifesta – em um grupo é maior, quanto maior for o tamanho do grupo:
the number of nonparticipators in a group increases with group size, resulting in a functional group smaller than the actual size.
Isso significa que grupos com muitas pessoas tendem a ser mais ineficientes que grupos menores. Por certo, quem nunca participou de uma reunião com 15 pessoas onde apenas 3 participam efetivamente?
Já com relação à Inibição de pensamento (Production blocking), as evidências do estudo demonstram fortemente que esse ponto é crucial em sessões de brainstorming.
O resultado das experiências demonstrou que o período de espera (delay due to blocking) para falar, inibe o desenvolvimento de novos pensamentos.
Isso porque, a memória humana tem capacidade reduzida de armazenar muitas ideias em um curto espaço de tempo. Aquela ideia que passou pela sua cabeça e foi embora, não pôde ser retida na memória e, portanto, é uma ideia perdida.
Ações a serem tomadas para tornar o brainstorming eficaz
A produtividade em sessões de brainstorming poderia ser aumentada com atitudes simples.
Permitir que as pessoas escrevam as suas próprias ideias em um papel, ao invés de ditá-las à pessoa do grupo definida como o(a) redator(a).
É mais efetivo pedir às pessoas para primeiro, desenvolverem seu raciocínio individualmente e, somente depois, submeter tais ideias ao grupo. A tarefa do grupo consistiria em avaliar as ideias, e não em produzi-las.
Estipular um período de tempo para que as pessoas deem ideias. O limite serviria como uma fonte de motivação.
Quando pessoas individualmente recebem o pedido para elaborarem ideias em um determinado espaço de tempo, elas se sentem obrigadas a contribuir e usam todo o tempo pensando.
Quando um grupo é demandado para fazer o mesmo, raramente o grupo permanece até o final do tempo dado. Eles terminam a tarefa muito antes do final do prazo. Isso ocorre porque sessões de brainstorming em grupo não exigem esforço individualizado.
Além disso, alguns membros aproveitam para relaxar enquanto deixam o trabalho para os demais.
Por fim, períodos de silêncio são mais constrangedores em sessões individuais, onde não existe ninguém para ser culpado; já em sessões em grupo, o constrangimento é compartilhado com todos.
Resumindo:
Por fim
Deixe os seus comentários abaixo. De acordo com a sua experiência, o brainstorming é eficaz? Quais são as suas impressões?